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Liberdade e criatividade no mundo corporativo

As consultorias de RH e as empresas de treinamento corporativo, assim como os livros e as palestras voltados ao comportamento empresarial, compartilham, na imensa maioria das vezes, de um mesmo princípio: o mundo corporativo demanda colaboradores criativos, capazes de encontrar soluções para diferentes situações-problema, e proativos, desinibidos ao ponto de não se limitarem ao mero cumprimento de suas funções estritas. Se inicialmente a criatividade e a proatividade do colaborador eram uma demanda do mundo corporativo, em um segundo momento esses valores foram sendo incorporados pelos próprios colaboradores, que almejam oportunidades que lhes permitam desenvolver projetos criativos e que esperam trabalhar em ambientes que estimulem não só a proatividade, mas também a autonomia e a liberdade profissional.

A importância que a cultura do mundo corporativo vem adquirindo nas últimas décadas, provavelmente pela necessidade de que o colaborador passe mais tempo e se dedique mais enfaticamente à empresa, vem levando os funcionários a acreditarem que sua criatividade e sua proatividade ou liberdade podem ser exercidos no interior do mundo corporativo. Os profissionais buscam ambientes em que possam desenvolver suas habilidades com autonomia, aguardando ansiosamente a oportunidade de ouro.

Não nos enganemos. Qualquer empresa tem um único objetivo: lucro. O resto é secundário. O ambiente corporativo nunca, repito, nunca será um espaço de desenvolvimento pleno da criatividade ou da liberdade. As ideias, os projetos, os comportamentos, as condutas e toda e qualquer experiência de um colaborador interessam ao mundo corporativo somente na medida em que possam gerar lucro ou minimizar os custos. O colaborador não é um fim em si mesmo, e sim um mero instrumento para a aquisição de mais lucro. Se uma empresa cria espaços para a manifestação de ideias ou estimula a responsabilização pelo desenvolvimento de projetos, não é porque o colaborador se tornou seu fim último, e sim porque é um meio de fazê-lo se dedicar mais avidamente aos interesses da empresa, de fazê-lo acreditar que ele é importante para aquela organização, de fazê-lo dedicar todos os seus desejos, saberes e experiências à multiplicação dos lucros.

Por que, então, a assertividade e a horizontalidade se tornaram palavras tão importantes no mundo corporativo? A resposta é simples: conceder ao colaborador a ilusão de criatividade e liberdade para se tornar mais produtivo aos seus fins. Venhamos e convenhamos: chefe é chefe, funcionário é funcionário. Essa relação jamais será horizontal. Pensar o contrário é ser míope ou ignorante.


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