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O novo não é, necessariamente, melhor

Há mais ou menos quinze anos, durante a segunda metade de minha graduação em História, eu participava de uma palestra a respeito do lançamento de um dos números da coleção Zero à esquerda, da editora Vozes. A mesa era composta, entre outros, por Paulo Arantes e Marilena Chauí. A filósofa iniciou sua comunicação com a seguinte frase: “O novo não é, necessariamente, ontologicamente melhor”, ou seja, nem tudo que se declara progressista, avançado ou moderno é melhor do que as atuais condições em que atualmente nos encontramos.
Creio que a frase de Marilena Chauí pode ser muito bem aplicada ao momento presente da educação paulista. O governador Geraldo Alckmin propôs o fechamento de 94 escolas por meio de uma reorganização escolar. Essa reorganização foi apresentada como uma proposta voltada para “uma escola mais preparada para as demandas de cada etapa escolar e atenta à nova realidade de cada faixa etária” e “com foco na qualidade de ensino”. Em reação à reorganização proposta pelo governador, que ocorreria sem uma consulta pública suficientemente democrática, condição necessária para uma transformação desse porte, estudantes secundaristas vem ocupando as escolas em que estudam, defendendo o não fechamento de nenhuma escola ou mesmo indicando a necessidade de estabelecer um diálogo franco e aberto com a participação de todos os envolvidos.
Curiosamente, a reorganização proposta pelo governo paulista, ao contrário do que possa parecer, assume o sentido de reorganização progressista justamente por propor uma mudança. Já os estudantes, também curiosamente, reivindicam, até certo ponto, uma pauta conservadora: a manutenção das escolas. Os estudantes lutam pela garantia do direito à educação e pela preservação do atual estado de coisas, e não por uma reforma estrutural do sistema de ensino.
Esse evento pode nos servir de alerta para os chamados modismos educacionais e para as propostas escolares ditas progressistas. Muitas vezes, é mais importante manter aquilo que já foi conquistado, luta conduzida pelos estudantes, do que regredir para um estado de sucateamento da educação por meio de uma proposta dita progressista, conduzida pelo governo paulista. Nem sempre o novo é o melhor.


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