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Arquivo mensal: abril 2015

The Rumble in the Jungle e a política nacional

Durante o sétimo round, encontrando-se exausto depois de desferir tantos golpes em seu oponente, que teimava em permanecer de pé, George Foreman escutou Muhammad Ali sussurrar em seu ouvido: “É tudo o que você tem, George?” No round seguinte, Muhammad Ali partiu para a ofensiva naquele combate que ficou conhecido como The Rumble in the Jungle e nocauteou George Foreman. Muitos anos depois, como que respondendo à pergunta que havia sido feita durante o combate no Zaire, George Foreman diria que sim, que aquilo era tudo o que ele tinha para dar.

A pergunta de Muhammad Ali pode ser feita hoje. Depois de acompanharmos os protestos de 15 de março e de 12 de abril, que repetiam mantras que pediam o impeachment da presidenta e a intervenção militar, podemos perguntar aos seus organizadores: é tudo o que vocês têm? Sim, é tudo o que eles têm. A pobreza desses protestos nos mostra que a única experiência política viável para seus organizadores é a negação da própria experiência política. Exigir, sem provas concretas, o impeachment da presidenta ou solicitar a intervenção militar não é participar do debate democrático ou experimentar o sabor da assembleia política, e sim anunciar que a brincadeira, que o jogo, que a luta não é legítima simplesmente porque reconhecer a própria derrota é inaceitável.

Quando a luta foi anunciada, George Foreman parecia um desafiante imbatível. Foreman era uma surpresa no cenário do boxe nos Estados Unidos, assim como os dois protestos dessas últimas semanas. Não ficamos surpresos com o fato de terem havido protestos, e sim porque vimos setores da sociedade defenderem e sustentarem um discurso que não beneficiava os mais desfavorecidos, que não favorecia os menos abastados, que não abastecia os mais carentes, que não encarecia os mais pobres. Tente se imaginar presenciando os moradores da Casa Grande protestando na Câmara Municipal contra o direito de os negros libertos utilizarem calçados.

Não nos enganemos. A situação política que estamos presenciando é mais complexa. Os dois protestos não estavam compostos apenas de setores da classe média e alta e somente por pessoas brancas. O fraco discurso do impeachment e da intervenção militar também foi entoado por pessoas negras e pelos setores mais pobres da sociedade. A composição heterogênea desses protestos, contudo, é superficial. Primeiro, porque a participação da classe média e alta e de pessoas brancas foi predominante. Segundo, porque determinadas cores e bandeiras estiveram proibidas de conviver lado a lado com as camisetas verde-amarelas e com as bandeiras do Brasil.

No oitavo round, Muhammad Ali provou ser o melhor. Na minha opinião, o melhor boxeador do século XX. Não creio que esse ou aquele partido vá assumir, no cenário político nacional, o mesmo lugar que Muhammad Ali havia assumido naquela luta. Penso, entretanto, que o debate político da direita tem sido tomado de parcas propostas, de ódio infantil e de poucas ideias. Creio que George Foreman era, sim, mais forte que Muhammad Ali. No entanto, a força não é suficiente para vencer uma luta. É preciso estratégia, competência pouco desenvolvida pela direita de nosso país.